Com apenas um ano de idade, Katakane ri e brinca nos braços
da mãe soropositiva, enquanto um médico tenta examinar a menina no maior
hospital público da África do Sul, em Soweto.
São apenas exames de rotina. A menininha é saudável, graças
a um tratamento que salvou milhares de bebês nascidos de mães portadoras do
vírus causador da aids.
"Minha bebê está ótima! Ela brinca, diz 'papai, mamãe'.
Sim, ela está bem, está ótima", contou, radiante, Nandi (nome fictício),
de 32 anos, comentando o alívio que sentiu quando soube que a filha não tinha
sido infectada com o HIV.
Dois anos atrás, enquanto estava grávida, Nandi ingressou em
um programa de saúde pública concebido para evitar que mães soropositivas
infectassem seus bebês com o vírus.
O tratamento salvou até 70.000 crianças ao ano, segundo
autoridades, uma grande história de sucesso diante das quase seis milhões de
pessoas que vivem com HIV e aids no país.
Grávidas fazem o teste em clínicas de pré-natal, relatou a
pediatra Avi Violari, no hospital Chris Hani Baragwanath, de Soweto.
"Se ela está contaminada com HIV, então oferecemos
aconselhamento intensivo. E oferecemos tratamento durante a gravidez",
explicou, enquanto crianças se penduram nas cadeiras azuis da unidade de
pesquisa, aguardando os pais que fazem testes ou tratamento.
As mães soropositivas recebem medicamentos antirretrovirais
(ARV) durante a gravidez e após o nascimento, e possivelmente uma dose extra
durante o trabalho de parto, dependendo a evolução o vírus. Tudo de graça.
Os remédios reduzem a carga viral no corpo da mãe, que por
sua vez diminui o risco de a criança contrair HIV através do cordão umbilical
ou por exposição aos fluidos corpóreos da mãe durante o parto ou a amamentação.
O recém-nascido também recebe algumas gotas de ARV em xarope, como um reforço
para combater a infecção.
O êxito do tratamento tem sido uma bênção em um país onde
metade dos 50 milhões de habitantes vive com menos de US$2 por dia. Embora os
antirretrovirais tenham reduzido o perfil da aids de doença mortal a crônica
nos países mais ricos, permitindo aos infectados manter um estilo de vida
normal, o mesmo não ocorre nos países mais pobres, onde a sobrevivência pode
ser uma luta cruel e diária em busca de alimentação e medicamentos adequados.
Até uma década atrás, a África do Sul também era
notoriamente resistente a fornecer medicamentos anti-aids para as grávidas. O
ex-presidente Thabo Mbeki, no poder na época, despertou críticas em todo o
mundo por questionar se o HIV causava a aids, bem como os diagnósticos e
remédios ocidentais no combate ao vírus. Em 2002, no entanto, a Corte
Constitucional determinou que os antirretrovirais fossem disponibilizados de
graça para futuras mães com HIV.
Atualmente, o programa sul-africano de ARV foi além das
grávidas e agora é oferecido a 1,3 milhão de pessoas, constituindo-se o maior
programa do tipo no mundo.
Antes do lançamento do programa "Prevenção da
Transmissão de Mãe para Filho (PMTCT, em inglês)", quase um terço dos
bebês do país nascia com HIV, contraído de suas mães. As taxas de infecção
agora caíram para menos de 4%, segundo números oficiais divulgados no ano
passado.
"É inacreditável como as taxas de transmissão caíram. É
realmente dramático", disse na capital, Pretória, Theresa Rossouw, doutora
chefe em HIV do país.
Autoridades de saúde internacionais comemoram o sucesso do
programa. "O programa PMTCT é o carro-chefe do governo sul-africano. É
algo sobre o que eles podem dizer, ''Nós lideramos este programa''", disse
Thapelo Maotoe, médica na agência de ajuda americana USAID, que financiou com
mais de US$3,3 bilhões o tratamento contra HIV/aids na África do Sul desde
2004.
Os resultados representam uma boa notícia em um país onde a
metade dos bebês soropositivos não consegue chegar aos cinco anos de idade, por
causa da pobreza generalizada.
Dia 31 de maio de 2012 • 16h47 • atualizado às 18h08